Um mendigo ficou choramingando na
porta da casa de uma família rica, ele ficava dias se lamuriando e dizendo como
a vida era injusta para ele. Logo ele percebeu que a mãe lhe dava ouvidos e
começou a dizer que eles tinham tanto e poderiam lhes dar um pouquinho, que não
lhes faria falta, e a mãe lhe deu comida e água, então ele pediu para usar o
banheiro, e ela abriu a porta para ele entrar. Logo ele se instalou na sala, e
começou a brincar com as crianças lhes dizendo ao pé do ouvido aquilo que elas
mais queriam ouvir, que podiam tudo e que tudo que quisessem deveriam
conseguir. Ao chegar do trabalho o pai viu o mendigo na sala, sujo e fedido,
tudo na sala estava emporcalhado, ele foi expulsar o mendigo de casa, mas esse
disse que foi a mãe que o deixou entrar e disse que poderia viver ali, o pai
consternado foi para o quarto, tomar um banho e dormir, à mãe, o mendigo disse
que o pai tinha deixado ele ficar, às crianças ele as ludibriava com presentes
que ele fazia com coisas que destruía da própria casa delas. Com o tempo o
casal vivia brigando, o mendigo contava mentiras do Pai para a Mãe e da Mãe
para o Pai, transformou-os em inimigos entre si, às crianças ele prometia
cuidar delas e dar-lhes tudo que queriam, enchia as crianças de doces, que
roubava da mãe e dizia que era culpa do pai.
A Casa estava virando um lixo,
não havia um cômodo que não estivesse sujo e fedendo, ratos, baratas e insetos
infestavam os lugares escuros e faziam companhia ao mendigo que parecia
comandá-los, ninguém era feliz ali. O mendigo manipulava a todos, à mãe dizia
que era maravilhosa e bondosa, uma santa, que ela que deveria comandar a casa e
dizer como se gastava o dinheiro que o pai ganhava, participava das caridades
que a mãe começou a promover no bairro, toda a vez que ela precisava de
dinheiro, o mendigo já se propunha a buscar com o pai, só que enquanto ela
pedia 30, ele pegava do pai 60, quando as crianças viam esse furto ele pedia 90
e dava 30 para as crianças e assim lhes comprar o silêncio. O pai nunca gostou
do mendigo, mas não conseguia entender o que estava havendo, ele achava que o
mendigo deveria ser grato por estar vivendo com eles e até ajudá-los por isso,
ele esqueçera que os seus avós avisaram, que na criação existia a cobra, que
nasce pessoas ruins, que são mais monstros que gente, ele não conseguia
entender essa verdade e por isso não agia com a energia necessária para
expulsar o demônio de dentro de casa.
O mendigo já tinha tudo
planejado, desde antes de entrar na casa, logo o pai perdeu o emprego, pois vinha
trabalhar sempre cansado e mau humorado e na maioria das vezes fedendo. Sem
dinheiro a casa foi hipotecada e logo seriam despejados, tudo isso era o que o
mendigo queria, ele não vivia para o futuro, ele aproveitava o presente,
invadiu uma casa que nunca teria pois nunca gostou de trabalhar e poupar, na
verdade, se vangloriava para si mesmo de ser ladrão e mentiroso, para os outros
sempre fazia o papel de vítima das circunstâncias e honesto, dizia ser o mais
honesto dos honestos, por isso que era mendigo e pobre. Para ele, o plano era
simples, a família seria despejada, o homem cansado de ser um burro de carga,
desistiria da vida, viraria ele mesmo um mendigo e sobreviveria no mundo
catando comida no lixo, abandonando a família, a mulher enlouqueceria, incapaz
de ver a realidade e assumir sua parcela da culpa, ficaria a berrar contra o mundo
dizendo que os outros que fizeram isso com ela e seus filhos, a culpa maior,
para ela, sempre seria do marido opressor, as crianças morreriam de fome, a mãe
louca e o pai mendigo não eram capazes de sustentar a si mesmos quanto mais um
grupo de crianças que acostumaram a ter tudo que queriam, quando foram atrás do
mendigo ele riu delas e as viu definhar lentamente na sua frente, pois ele nada
sentia exceto o ódio pelas coisas belas e boas que ele nunca conseguia ter
exceto roubando. A Família foi embora após o despejo, mas o mendigo entrou na
casa, e lá vive, ele espera morrer antes da casa cair sobre ele por descuido e
descaso, se por acaso a casa se deteriorar antes dele, ele dará o mesmo golpe
no vizinho e assim ele vive, no presente, destruindo o futuro dos outros, que
tolamente, não acreditam que exista o mal na alma do homem.
O mendigo é Cuba (Socialismo), o
Pai é o povo trabalhador de todas classes. A mãe são os movimentos sociais
engajados em fazer a coisa certa custe o que custar principalmente se não
tiverem que julgar a si mesmos e suas ações. As crianças, são os políticos, que
sempre sabem, sempre puderam avisar ou revelar a verdade, mas sempre foram
egocêntricas achando que serão sempre o centro das atenções, esquecendo que
crescem e o tempo passa para todos e se não se prepararem para o mundo e
amadurecerem, serão enganadas pelo “lobo” e comidos. Os avós são os costumes,
religião e identidade de um povo, servem para alertar sobre o mal que há, mas
são velhos demais para agir contra... Esse é o conto das Américas do século XX.